quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Um breve comentário sobre "palavras"

De tão longamente ludibriados, vaidosos da própria amargura, tinham repugnância por palavras, sobretudo quando uma palavra — como poesia — era tão esperta que quase exprimia, e aí então é que mostrava mesmo como exprimia pouco.
["A mensagem", Clarice Lispector. In: Felicidade Clandestina, contos.]

Hoje na aula de Literatura Brasileira a prof.ª Simone nos mostrou um conto da Clarice Lispector chamado A mensagem. O conto é sobre um casal de amigos que se descobrem angustiados, mas os dois dão uma significação diferente à palavra angústia. Não dá pra saber, exatamente, qual é a carga semântica adotada pelos amigos no conto, mas o que fica claro é que os dois jovens não querem definir e serem definidos pela linguagem corrente e usual.

É, eu sei, os escritos da Clarice são herméticos, pra se entender um parágrafo temos que pensar muito. Mas Schiller, uma vez, disse algo parecido com o que dá pra entender do conto:

"Quando a alma fala, já não fala a alma."

O que Schiller quis dizer com isso é o seguinte: as palavras que usamos na comunicação são impregnadas de valores e sentidos que são próprios da cultura da qual fazem parte. E por mais que uma língua tenha milhares de vocábulos, os sentimentos que são próprios de nossa alma não poderiam ser expressos com fidelidade pela linguagem, pois cada sentimento é próprio de cada um e as palavras estão como que contaminadas pela cultura e pela sociedade na qual ela está inserida.

Em outras palavras, quando dizemos algo "do fundo da nossa alma", não estamos exatamente fazendo isso, pois mesmo que a linguagem que usamos para nos exprimir se aproxime bastante do que queremos dizer, nunca conseguiremos fazê-lo, já que "definições de dicionário" não são muito adequadas para exprimir um sem-número de coisas.