Um dia eu ganhei uma Barbie do meu pai. Eu tinha mais um monte de bonecas, mas a Barbie era a mais bonita de todas... a mais nova de todas... eu só brincava com a Barbie. As outras ficaram dentro da caixa, fazendo companhia umas às outras.
Ela ficou feia, descabelada, toda manchada (quem é que nunca teve uma boneca e tentou maquiá-la com batom?), e ainda era a minha boneca preferida.
Ate que um outro dia meu pai me trouxe um ursinho de pelúcia. Naquele dia eu vi que a Barbie estava feia, descabelada e toda manchada, e o ursinho era novo e fofinho. Sem nem pensar duas vezes, a Barbie foi pra caixa, junto com as outras bonecas. E eu só brincava com o ursinho.
Depois de muito tempo (que é quando a gente começa a pensar no que fazia quando era criança) eu me perguntava por que é que eu fazia diferença com os meus brinquedos na hora que eu ganhava um novo, já que eu gostava de todos eles. E a resposta me veio semana passada, quando eu observava a dinâmica do posto de saúde aonde eu trabalho, e pensava em outros aspectos da minha vida.
Eu fazia diferença entre os brinquedos novos (e acho que isso é natural em toda criança) porque o que é novidade atrai mais a atenção do que o que já é recorrente. O que é novidade torna-se mais atraente, mais legal, mais bonito, mais prático, mais... mais. E a tendência é proteger o mais novo em detrimento do mais velho. O brinquedo velho pode ficar jogado embaixo da cama, mas o novo fica sempre em cima da estante, cuidadosamente colocado.
E no mesmo instante me toquei que a "regra" dos brinquedos se aplica às pessoas também. As mais recentes na convivência parecem ser as que tem mais importância, enquanto que as mais velhas deixam de ser tão solicitadas. Porque é novidade, é mais atraente, é mais legal, é mais bonito (em qualquer aspecto), mais "prático", mais... mais.
Quanto à(s) outra(s) pessoa(s), o costume já permite um afastamento. Que pode durar horas, dias, semanas, meses, anos, ou eras. Sendo o tempo relativo, esse afastamento pode até ser definitivo... o brinquedo é inerte, não possui psicologia: ele fica lá, te esperando; as pessoas, nem sempre.
O que mais me assusta não são as pessoas que entram e saem das nossas vidas rapidamente, e sim aquelas que ficam muitos anos, que nos deixam a sensação que nos acompanharm pelo resto de nossas vidas, e por uma idiotice, saem do nada...pq?
ResponderExcluirElise, que texto lindo e provocante. Acho que você tem razão em vários pontos que aborda e, acrescento outro: a adaptação. Muitas vezes, o novo precisa e requer essa atenção, porque senão ele não consegue cumprir o papel a que veio. Também acho que é transitório. Mas, o importante nesta reflexão é a gente não se sentir fragilizada e nem diminuida porque momentaneamente não teremos toda a atenção para nós. Acho semelhante a experiência de quando chega um bebê novo na família. A mãe não deixa de amar o mais velho, mas naquele momento, até por uma questão de sobrevivência o novo precisará da atenção da mãe. E mãe só pode deixar o mais velho um pouquinho "sozinho" porque ele tem estrutura e recuros interno,físicos, biológicos, psicológicos para isso.
ResponderExcluirMas tem aquele ditadinho...
ResponderExcluirNão troque o amor velho
Pelo novo que há de vir
O novo há de faltar
O velho há de servir
;-)