Quando eu estava em Curitiba eu acompanhei pela televisão a situação da cidade de São Paulo no que concerne às típicas chuvas que tomam os meses do Verão. Mas eu não imaginava que eu ia ver de perto, de novo, todo o caos em que a cidade emerge, literalmente, depois de uma tempestade.
Eu voltei de viagem na quinta-feira. Peguei o ônibus em Curitiba eram 0h20m. Minha mãe havia me alertado sobre as chuvas na madrugada que eu já tinha visto pela tv, mas eu calculei que chegaria em São Paulo depois do temporal.
Passei pela Cidade Universitária eram 7 da manhã. E eu devia ter descido lá, quando o motorista perguntou se alguém desembarcaria.
Eram mais ou menos 7 e meia quando o ônibus chegou ao braço de acesso ao Cebolão, a famosa interligação entre as Marginais Tietê e Pinheiros, composta por viadutos e pontes. Este complexo viário também permite acesso à Rodovia Castelo Branco. Considerando o trânsito normal da cidade, o ônibus certamente pararia ali por alguns momentos. Mas, cerca de 15 minutos depois, o motorista dirigiu-se a nós, dizendo que os rios haviam transbordado, estava tudo alagado e não tínhamos previsão de chegada ao Terminal Rodoviário do Tietê. Estávamos, literalmente, presos diante de um alagamento gigante.
E eu estava atrasada pra chegar em casa, visto que minha mãe e meu pai esperavam que eu chegasse em casa até umas 9 da manhã.
As cenas que eu via pela janela do ônibus eram as mesmas que eu já tinha visto pela televisão um monte de vezes: pessoas andando pra longe do alagamento, lotando os pontos de ônibus, esperando que pudessem chegar ao trabalho ou voltar pra casa.
Depois de mais 15 minutos de espera, e tendo o ônibus avançado cerca de cinco metros, eu pedi para o motorista abrir a porta do ônibus e desci numa Av. Gastão Vidigal completamente congestionada. Saí procurando um orelhão pra ligar pros meus pais e avisar que eu estava bem, apesar de não saber a que horas chegaria em casa. Então procurei uma estação de trem ou metrô que fosse próxima. Por sorte, havia ali perto a estação Imperatriz Leopoldina, que faz parte da linha Itapevi - Julio Prestes, e esta linha não havia sido afetada pela enchente. Peguei o trem sentido Julio Prestes e desci na Barra Funda. Um mar de gente desceu comigo, e todos nós fomos em direção ao metrô. Peguei a linha Palmeiras/Barra Funda - Corinthians/Itaquera e desci no metrô Sé, no centro de São Paulo. Avisei aqui em casa que já estava a caminho, e dali peguei o ônibus que vem aqui pra rua de cima da minha casa. Cheguei em casa às 11 e meia, com minha mãe dando graças por eu estar pelo menos seca...
Agora, por que eu disse ali no título que a culpa também é minha?
Antes de explicar, eu quero dizer que eu não gosto do prefeito de São Paulo, o sr. engenheiro civil e economista Gilberto Kassab, e não acho legal ele chegar na mídia e dizer que "está tudo sob controle", quando dá pra ver claramente que não está. Mas eu seria hipócrita se eu dissesse que tudo o que acontece de errado na cidade é culpa da administração dele. No caso das enchentes, em específico, a culpa também é minha, e da população de São Paulo em geral.
Enquanto eu vinha em direção à minha casa, passei pela Avenida do Estado. Ali no meio passa o rio Tamanduateí, que quase sempre enche. Ele também transbordou naquela madrugada, e quando eu passei por lá ele já tinha voltado ao leito. Mas sabem o que mais tinha nas margens elevadas do rio?
Lixo.
Por que as ruas alagam? Porque a água não consegue escoar pelos bueiros. E por que a água não escoa? Porque os bueiros estão mais pra depósitos de lixo do que para escoadores de água.
E não dá pra dizer que não há orientação por parte da prefeitura para evitar esta situação, pois há lixeiras espalhadas pela cidade e o caminhão da Limpurb passa três vezes por semana coletando lixo. Mesmo assim, todos os dias as pessoas jogam todo o tipo de coisas nas ruas. Quem já não se pegou amassando um papel de bala e jogando no meio-fio? Ou jogando pontas de cigarro no chão, depois de poluir o ar com a fumaça (observação: mea culpa, nessa parte. Quando eu fumava eu fazia exatamente isso, e eu peço perdão à mãe Natureza por isso...)? Daí a conclusão que não dá pra colocar a culpa só no Kassab. A culpa também é nossa. Sabemos que plástico e latas levam milhares de anos pra se decompor, e o papel em contato com a água forma umas bolas gosmentas que até se decomporem, entopem tudo o que tem buracos. E também sabemos que rua e rio não é lugar de se jogar lixo. Então, que hipocrisia é essa que toma a população da cidade quando os rios transbordam e alagam tudo ao redor? Digo novamente: a culpa também é nossa, também é minha.
É muito fácil xingar o prefeito, mas como dizia o V, no filme V for Vendetta, "se quisermos encontrar os culpados, basta olharmos no espelho".
Não vou abordar aqui o fato de as marginais e avenidas estarem em áreas de várzea de rios, pois isso certamente é um erro estrutural, mas o planejamento e construção destas marginais e avenidas é anterior até ao meu nascimento. E isso não é algo que possa ser mudado imediatamente. O que precisa ser mudado é o modo como encaramos a cidade, como uma grande lata de lixo, que transborda toda vez que chove um pouco mais forte... E em vez de ficarmos sentados esperando a água baixar, se parássemos de agir como se não nos importássemos com a limpeza da cidade, talvez não tenhamos que encarar mais uma vez a cidade debaixo d'água por causa do lixo que nós mesmos jogamos nas ruas.
Eu voltei de viagem na quinta-feira. Peguei o ônibus em Curitiba eram 0h20m. Minha mãe havia me alertado sobre as chuvas na madrugada que eu já tinha visto pela tv, mas eu calculei que chegaria em São Paulo depois do temporal.
Passei pela Cidade Universitária eram 7 da manhã. E eu devia ter descido lá, quando o motorista perguntou se alguém desembarcaria.
Eram mais ou menos 7 e meia quando o ônibus chegou ao braço de acesso ao Cebolão, a famosa interligação entre as Marginais Tietê e Pinheiros, composta por viadutos e pontes. Este complexo viário também permite acesso à Rodovia Castelo Branco. Considerando o trânsito normal da cidade, o ônibus certamente pararia ali por alguns momentos. Mas, cerca de 15 minutos depois, o motorista dirigiu-se a nós, dizendo que os rios haviam transbordado, estava tudo alagado e não tínhamos previsão de chegada ao Terminal Rodoviário do Tietê. Estávamos, literalmente, presos diante de um alagamento gigante.
E eu estava atrasada pra chegar em casa, visto que minha mãe e meu pai esperavam que eu chegasse em casa até umas 9 da manhã.
As cenas que eu via pela janela do ônibus eram as mesmas que eu já tinha visto pela televisão um monte de vezes: pessoas andando pra longe do alagamento, lotando os pontos de ônibus, esperando que pudessem chegar ao trabalho ou voltar pra casa.
Depois de mais 15 minutos de espera, e tendo o ônibus avançado cerca de cinco metros, eu pedi para o motorista abrir a porta do ônibus e desci numa Av. Gastão Vidigal completamente congestionada. Saí procurando um orelhão pra ligar pros meus pais e avisar que eu estava bem, apesar de não saber a que horas chegaria em casa. Então procurei uma estação de trem ou metrô que fosse próxima. Por sorte, havia ali perto a estação Imperatriz Leopoldina, que faz parte da linha Itapevi - Julio Prestes, e esta linha não havia sido afetada pela enchente. Peguei o trem sentido Julio Prestes e desci na Barra Funda. Um mar de gente desceu comigo, e todos nós fomos em direção ao metrô. Peguei a linha Palmeiras/Barra Funda - Corinthians/Itaquera e desci no metrô Sé, no centro de São Paulo. Avisei aqui em casa que já estava a caminho, e dali peguei o ônibus que vem aqui pra rua de cima da minha casa. Cheguei em casa às 11 e meia, com minha mãe dando graças por eu estar pelo menos seca...
Agora, por que eu disse ali no título que a culpa também é minha?
Antes de explicar, eu quero dizer que eu não gosto do prefeito de São Paulo, o sr. engenheiro civil e economista Gilberto Kassab, e não acho legal ele chegar na mídia e dizer que "está tudo sob controle", quando dá pra ver claramente que não está. Mas eu seria hipócrita se eu dissesse que tudo o que acontece de errado na cidade é culpa da administração dele. No caso das enchentes, em específico, a culpa também é minha, e da população de São Paulo em geral.
Enquanto eu vinha em direção à minha casa, passei pela Avenida do Estado. Ali no meio passa o rio Tamanduateí, que quase sempre enche. Ele também transbordou naquela madrugada, e quando eu passei por lá ele já tinha voltado ao leito. Mas sabem o que mais tinha nas margens elevadas do rio?
Lixo.
Por que as ruas alagam? Porque a água não consegue escoar pelos bueiros. E por que a água não escoa? Porque os bueiros estão mais pra depósitos de lixo do que para escoadores de água.
E não dá pra dizer que não há orientação por parte da prefeitura para evitar esta situação, pois há lixeiras espalhadas pela cidade e o caminhão da Limpurb passa três vezes por semana coletando lixo. Mesmo assim, todos os dias as pessoas jogam todo o tipo de coisas nas ruas. Quem já não se pegou amassando um papel de bala e jogando no meio-fio? Ou jogando pontas de cigarro no chão, depois de poluir o ar com a fumaça (observação: mea culpa, nessa parte. Quando eu fumava eu fazia exatamente isso, e eu peço perdão à mãe Natureza por isso...)? Daí a conclusão que não dá pra colocar a culpa só no Kassab. A culpa também é nossa. Sabemos que plástico e latas levam milhares de anos pra se decompor, e o papel em contato com a água forma umas bolas gosmentas que até se decomporem, entopem tudo o que tem buracos. E também sabemos que rua e rio não é lugar de se jogar lixo. Então, que hipocrisia é essa que toma a população da cidade quando os rios transbordam e alagam tudo ao redor? Digo novamente: a culpa também é nossa, também é minha.
É muito fácil xingar o prefeito, mas como dizia o V, no filme V for Vendetta, "se quisermos encontrar os culpados, basta olharmos no espelho".
Não vou abordar aqui o fato de as marginais e avenidas estarem em áreas de várzea de rios, pois isso certamente é um erro estrutural, mas o planejamento e construção destas marginais e avenidas é anterior até ao meu nascimento. E isso não é algo que possa ser mudado imediatamente. O que precisa ser mudado é o modo como encaramos a cidade, como uma grande lata de lixo, que transborda toda vez que chove um pouco mais forte... E em vez de ficarmos sentados esperando a água baixar, se parássemos de agir como se não nos importássemos com a limpeza da cidade, talvez não tenhamos que encarar mais uma vez a cidade debaixo d'água por causa do lixo que nós mesmos jogamos nas ruas.
Boa e justa opinião a sua, mas não é só a porquice da população que causa enchentes cada vez piores, independente de quantas medidas preventivas e educativas sejam tomadas.
ResponderExcluirO fato é que as cidades grandes continuam crescendo, e as pessoas tem morar em algum lugar. E elas tentam morar o melhor possível. Quase sempre isso significa aproveitar todo e qualquer cantinho de terra na propriedade. O resultado é uma cidade cada vez mais impermeável à chuva; quando ela vem, não há nenhuma terra para absorvê-la. A água escorre toda e imediatamente para as canalizações pluviais, algumas construídas há mais de 50 anos, dimensionadas para uma quantidade de água muito abaixo do que é necessário hoje. Rapidamente, tudo vai para os rios canalizados e assoreados, incapazes de dar vazão rápida a toda ela, e as inundações vão se sucedendo conforme a água avança.
Não sei se é possível resolver isso a curto prazo, na verdade acho que vai piorar muito antes de melhorar.
O lixo ajuda a coisa ficar pior, mas não é ele o único nem o principal culpado.
Cerito, obrigada pelo comentário!
ResponderExcluirDe fato, a falta de estrutura das grandes cidades é o maior vilão na luta contra os alagamentos. Eu abordei a questão do lixo por ser um aspecto que pode ser mudado pela população e por ter ficado indignada com tamanha sujeira nas margens do Tamanduateí, e não só nele. No Pinheiros, a quantidade de garrafas PET boiando no rio é absurda. A curto prazo, as mudanças estruturais são praticamente impossíveis. Nem adianta começar a desassorear os outros rios, como foi feito na calha do Tietê, pois vimos que pouco ajudou. O pior é que a pouca terra que restou pra absorver a água acaba sendo levada na enxurrada. A cidade de São Paulo está num estado lamentável e infelizmente, no quesito estrutura, pouco podemos fazer a respeito.
Um grande abraço! =D
Olá, Elise!
ResponderExcluirEntendo bem seu desabafo. Apesar de hoje morar no interior de SP, já morei aí durante alguns anos. E ano passado, quando eu voltava de um evento aí em SP, levei mais de 4 horas para voltar para casa - o que normalmente levaria pouco mais de uma.
Acho que tanto sua opinião quanto a do Hiperespaço são verdadeiras. Por um lado, a cidade de São Paulo está se tornando inviável. Não só com relação às enchentes, mas de toda a infra-estrutura necessária para a vida. Em conseqüência disso, cada vez mais empresas se instalam no interior, onde ainda não padecemos disso nessa intensidade.
Com relação à nossa atitude, eu vejo aqui na região o resultado do lixo de SP: o Rio Tietê chega aqui carregado de garrafas PET, sem contar a carga de poluentes.
Então, você tem razão: todos nós temos nossa parte da culpa. E para corrigir isso, são necessários anos de conscientização e punição. É necessário multar quem joga um papel pela janela do carro ou um toco de cigarro no chão.
Quem sabe um dia veremos a situação um pouco mais tranquila. Caso contrário, será um caos total.
Um abraço!
Olá, Adelson!
ResponderExcluirHoje choveu de novo e a cidade parou de novo. Como eu disse aí em cima para o Cerito/Hiperespaço, a estrutura da cidade está lamentável. Eu tento fazer a minha parte, mas como dizem, uma andorinha só não faz verão. Enfim. Eu fico chateada e só posso esperar que a situação fique mais tranquila.
Um abraço!
Olá novamente, Elise!
ResponderExcluirVim deixar aqui uma atualização de meu comentário. Estive hoje em SP a trabalho e vivi de perto a situação descrita por você em seu artigo.
Para começar, quase não consegui chegar ao meu carro, porque a água já estava no nível das portas. Depois, mais de 1 hora parado no trânsito, ouvindo notícias para evitar a Marginal Tietê - que era justamente para onde eu precisava ir. Só senti alívio mesmo quando consegui deixar a "grande metrópole" para trás e pegar a estrada de volta para minha bucólica cidade. Bem, Itu não é tão bucólica assim, mas aqui, com ou sem chuva, eu levo 12 minutos para atravessas a cidade toda e chegar ao meu trabalho.
Uma pena que o preço a pagar para morar em SP seja tão alto! Conversava hoje com um rapaz da empresa que fui visitar. Quem mora aí precisa descontar 2 ou 3 horas do dia, que sempre são gastas no trânsito. Quando chove como hoje, esse número vira uma incerteza.
Um abraço, Elise! E que a chuva cesse para que as coisas voltem ao seu normal.
Obrigada pela atualização, Adelson!
ResponderExcluirE enquanto isso, as chuvas continuam... =(