Nas duas últimas semanas eu tive que passar duas vezes na biblioteca da FFLCH pra pegar alguns livros. Na primeira, peguei uma porrada de livros do Bakhtin e mais um, intitulado “Die formale Methode in der Literaturwissenschaft”, que é a tradução alemã de um livro de Pavel Medvedev e que será a base fundamental para o meu projeto de IC, caso ele seja aprovado pelo CNPq. Na segunda, peguei um livro intitulado "Israel Carnal – lendo o sexo na cultura talmúdica”, de autoria de Daniel Boyarin, que usarei para fazer um trabalho de Cultura do Povo Judeu na Idade Média.
Por que estou falando isso? Porque tanto um quanto outro dispõe de UM exemplar, APENAS, na Florestan. Eu não sei quanto ao do Medvedev, não me lembro agora, mas este do Boyarin é o único também na USP INTEIRA. Ou seja, se alguém precisasse desse livro pra fazer uma pesquisa, e fosse procurá-lo lá hoje, não o encontraria, pois ele está comigo. E eu teria que entregá-lo em 10 dias, atrasando o meu trabalho, pra outra pessoa poder pegá-lo, e em 10 dias ele teria que devolver para que eu pegasse novamente. Ou seja, duas pesquisas seriam prejudicadas porque há apenas UM livro sobre esse assunto disponível pra consulta. Só na Letras há 8 mil estudantes. E como fica?
Fica assim: um colega, muito gentilmente, se dispõe a gastar tempo e, ultimamente, dinheiro, pra poder disponibilizar via internet obras nesta situação, ou em situação pior – caso de esgotamento em editoras e livrarias, por exemplo – para que nós, estudantes, possamos fazer nossas pesquisas de um modo minimamente decente. E o que acontece?
Ele é processado.
Acho que nos autos do processo não deveria constar, por parte da ABDR, algo parecido com “violação do direito autoral das editoras X e Y”. Deveria constar o seguinte: “o site livrosdehumanas.org está sendo punido por facilitar o acesso à cultura para pessoas que se interessam por ela”.
Porque, francamente, se o problema todo fosse REALMENTE a disponibilização gratuita de obras, TODAS as bibliotecas deveriam ser fechadas e punidas, porque tecnicamente elas impedem que se compre as obras, não é?
Pra terminar – porque isso é uma rapidinha e não um tratado sobre a injustiça que é essa situação toda – deixo vocês com um vídeo do Gaiman falando sobre distribuição de obras pela internet. Sim, Neil Gaiman, autor de Sandman, que TAMBÉM se manifestou no Twitter apoiando o site Livros de Humanas.