(ato II)
21. Eu era extrovertida demais quando era mais nova, pirada, louquinha mesmo, mas desde os 22, 23 anos eu fiquei mais introvertida. Não sei se isso é normal, mas fui ficando meio bicho do mato com o passar do tempo. Hoje em dia o melhor lugar pra me encontrar geralmente é quieta, no meu canto.
22. Um tanto relacionado com o fato acima, eu tenho uma dificuldade enorme de me aproximar de pessoas a quem eu admiro ou que me impressionam. Eu fico sem graça, com medo, envergonhada mesmo. Já aconteceu muito de eu pensar "nossa, tal pessoa tá MESMO falando comigo? não é possível, deve estar me confundindo com alguém" ou "sério que eu tou conseguindo conversar com essa pessoa?" quando o contato acontece. E mesmo com pessoas que se tornaram amigos/as eu ainda tenho dificuldade em me expressar.
23. Eu dava trabalho pro meu pai quando era pequena porque ele me punha pra dormir e eu não dormia. Daí ele lia historinhas e eu não dormia. Então ele resolveu me mostrar as letras e depois as sílabas e depois as palavras e foi assim que com três anos eu já sabia ler.
24. Por causa disso, eu não fiz a primeira série do primário (ou ensino fundamental, pra quem não é velho como eu). A professora não sabia o que fazer comigo e me puseram como ouvinte numa sala da segunda série. A professora da segunda série ficou pasma porque eu sabia o que era um hiato com sete anos de idade. Fiquei naquela turma até o fim do ano e fui a melhor aluna da sala. No ano seguinte me puseram na terceira série e eu ia acompanhando muito bem até que, durante o processo de regularização da minha matrícula, veio uma ordem da secretaria de ensino, acho, pra que me pusessem de volta na segunda série. Daí eu cursei tudo de novo, fui pra terceira série, fiz direitinho a coisa toda, e antes que alguém resolvesse me mandar pra quinta série, porque eu ainda estava mais adiantada do que o resto da turma, minha mãe me tirou de lá e me matriculou em outra escola.
25. Com 16 anos eu cometi a insanidade de ler Crime e Castigo. Eu amo aquele livro, mas ler aquilo numa época em que eu estava questionando várias coisas sobre mim mesma fez com que eu surtasse e ficasse mais ou menos uma semana fora do ar. Só muito tempo depos eu li pela segunda vez e entendi algumas partes do livro - e consequentemente o motivo pelo qual eu havia surtado.
26. Com nove ou dez anos eu era obcecada pelo filme Meu primeiro amor. Perdi as contas de quantas vezes eu assisti o filme, mas foram muitas, a ponto de decorar TODAS as falas. Eu queria ser a Vada! Até hoje eu lembro das falas, e até hoje eu me acabo de chorar na cena do velório do Thomas...
27. Eu sou destra. Talvez esse não seja um fato tão interessante, visto que a maioria da população mundial é destra, mas quando eu era pequena eu queria ser canhota. Até consigo escrever com a mão esquerda, mas sai tudo torto.
28. Eu tenho uma aflição terrível relacionada com aranhas. Não chega a ser medo, talvez porque aqui onde eu moro não exista nenhuma espécie de aranha venenosa, mas quando eu me deparo com um bicho que tem quatro pares de patas se movendo com a velocidade que só quatro pares de patas podem proporcionar, minha espinha gela e eu tenho que olhar pra outra coisa.
29. Eu já fui ruiva. Um dia eu estava muito puta com meu primeiro namorado, nem lembro mais por que, e resolvi gastar minha hora de almoço no salão. Na época meu cabelo chegava quase na cintura, e quando eu disse "corta na altura do queixo e pinta de cereja" a cabeleireira quase caiu pra trás. Não sei mais quanto tempo mantive a cor, mas sempre que eu ia refazer a tintura eu saía do salão parecendo um palito de fósforo.
30. Depois da aventura acima levei dez anos pra deixar o cabelo crescer de novo. Como vocês bem sabem, eu não tenho parafusos na cabeça, então por um bom tempo eu mesma cortava meu cabelo. Eu aproveitava que ele ficava lisinho no banho e separava duas mechas de franja na frente, passava a mão numa daquelas tesouras de cabo preto que se usa pra cortar papel e picotava a parte de trás. Geralmente ficava bom, mas uma vez fiz uma cagada tão grande que tive que ir no salão pra consertar o estrago.
(continua)
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