Tudo começou há uns meses quando o Ednei me chamou pra passar o réveillon num festival alternativo. Sete dias de psicodelia, música eletrônica, essas coisas todas. Pensei “por que não?”, e falei “bora lá”. Daí o planejamento – comprar ingressos, descolar transporte, acampar…
Pois é, haveria espaço para camping no local do festival, e já que não deu pra encontrar nenhuma pousada pela internet, o jeito era comprar a barraca e passar uma semana acampando. Ia ser divertido.
Pois é, foi divertido, até. Mas de um jeito que não dava pra prever.
Logo depois que decidimos que iríamos acampar, chamei meu pai no gTalk [modernidades mode: on] e pedi pra ele me dizer o que seria necessário para levar a aventura a cabo. Meu pai, quando era solteiro, vivia acampando com os amigos, então o que ele dissesse seria seguido à risca. E foi. A única coisa que a gente esqueceu de comprar foi uma lanterna.
O tempo passou etc. Uma semana antes de viajar, compramos a barraca e um colchão inflável. Dois dias antes, compramos o restante das coisas [produtos de higiene pessoal, kit de primeiros socorros]. E fomos em direção à Ilha Comprida.
Seis horas de viagem depois, desembarcamos em Cananéia debaixo de uma chuva fininha. Pegamos a balsa para atravessar para a ilha [e o Ednei nem percebeu que a gente havia saído do lugar e começou a teorizar sobre teletransporte]. Do outro lado, toca andar até a entrada pra pegar o ônibus.
Guardem esse detalhe: eu estava com uma mala cheia de roupa e as coisas que eu havia comprado, mais duas sacolas, com o colchão inflável e a bomba de ar; o Ednei estava com outra mala cheia de roupas e uma mochila com a barraca dentro.
Quando pegamos o ônibus em direção ao local do festival, começou a chover um pouco mais forte. E quando descemos na porta do local, a chuva pegou. Fomos, eu, ele, malas e sacolas pro local do camping. Tínhamos que escolher um local mais ou menos plano pra montar a barraca e colocar o colchão dentro… encontramos um bom lugar, mas a essa altura já estava chovendo de verdade. Aos trancos e barrancos conseguimos armar a barraca [sem trocadilhos, por favor] e inflamos o colchão dentro dela.
Imagem aproximada da nossa barraca.
Ela é azul, na verdade, mas o modelo é parecido com esse.
Colocamos as malas na “varandinha” e entramos. A chuva ainda caía. O pensamento era “tomara que a barraca aguente”. Fomos comer – e pagamos 50 REAIS numa pizza portuguesa – , depois capotamos dentro da barraca – eu não havia dormido direito, e o Ednei vive com sono… – e dá-lhe chuva. Era mais ou menos 22h.
Lá pelas 3h eu despertei, e AINDA estava chovendo. Cadê a maldita lanterna? Ela fez falta. Nota mental: comprar uma lanterna ASAP. Tateei o chão do lado de fora, na varandinha, e estava molhado. Acordei o Ednei e disse a ele que precisávamos tirar as malas do chão e coloca-las em cima do colchão. Bendito insight, esse. Malas pra dentro, voltamos a dormir.
Mais tarde, lá pelas 5h30, senti uns pingos d'água na perna. Só fechei a parte de dentro e deitei de novo. Mas não consegui dormir mais. A chuva ainda não havia parado. Comecei a achar que a barraca não ia aguentar, pois além da chuva, havia começado a ventar.
Pouco depois, comecei a ouvir pessoas andando e falando do lado de fora. Os passos eram na verdade barulhos de “splash”, e ouvi uma garota dizendo “tem pelo menos 10 cm de água”. Achei que era dentro da barraca dela. Nisso o Ednei acordou, viu que ainda estava chovendo e começou a rir. Na verdade ele não estava só rindo, ele estava dizendo coisas como “agora você pode dizer que eu só te meto em roubada” enquanto se esborrachava de gargalhar.
Quando a chuva finalmente parou um pouco, resolvemos abrir a barraca e ver a situação do lado de fora. Daí quem começou a rir fui eu.
O LADO DE FORA DA BARRACA HAVIA VIRADO UM LAGO.
Os 10 cm de água que eu ouvi a menina citar não era na barraca dela, era NO ACAMPAMENTO. E era pelo menos 20 cm de água.
Não tiramos foto do local porque o meu celular estava sem bateria, o do Ednei precisava ficar seco e a minha câmera… bem… RIP pra ela. Mas nós estávamos exatamente no local mais baixo do acampamento. As outras barracas estavam parcialmente encharcadas, mas a nossa estava no meio do alagamento.
O que salvou a coisa toda foi o fato de termos comprado um colchão inflável em vez dos sacos de dormir. A parte de baixo estava totalmente molhada. E se eu não tivesse acordado de madrugada e colocado as malas pra dentro… bom, dá pra imaginar o que teria acontecido. Mesmo assim, uma parte das nossas roupas ficou encharcada.
E a barraca. Ah, essa guerreira. Ela aguentou todo o temporal ilesa, não caiu uma gota de água dentro da barraca, exceto pelos pingos que eu senti de madrugada, mas que foram trazidos pelo vento.
Colocamos as coisas de volta nas malas e começamos a bater em retirada. Tiramos as malas pra um lugar seco – ou menos molhado, pelo menos – e começamos a desarmar a barraca. As estacas ficaram, porque ninguém ia ficar fuçando dentro da água pra procurar. Com a ajuda do meu canivete suíço – e ainda bem que eu sou louca por armas brancas, senão acho que estávamos até agora tentando desamarrar os nós – desmontamos tudo. Daí toca voltar pra Cananéia, pra ficar numa pousada, porque não dava mais pra acampar, com tudo molhado.
Mais tarde nós voltamos pra ver como estavam as coisas no festival. Lama por todo o lado, o local onde nossa barraca ficara ainda estava alagado… no local onde havia o palco de música eletrônica, as pessoas estavam felizes da vida, apesar de tudo. Todos felizes, contentes e sujos de lama – e eu atentando pra onde eu pisava pra não sujar os pés. Sou uma dondoquinha, admito. Aliás, somos dois posers. Estávamos arrumadinhos e limpinhos, fugimos pra uma pousada assim que as coisas ficaram feias, e o resto da galera continuou lá, com lama, água pra tudo quanto era lado, e ninguém estava nem aí com o estado das roupas ou coisa parecida. Eles são roots. Nós somos dois urbanoides malucos…
Já era mais ou menos 20h quando resolvemos voltar pra pousada. E cadê o ônibus? O staff informou que não era certeza de que haveria outro ônibus para nos levar até a balsa, e a distância de lá até a balsa era de no mínimo 10 km. E aí?
Aí que um tio saiu de dentro do festival com uma Saveiro. Conosco havia mais um casal e alguns rapazes precisando ir em direção à balsa também. Mais do que depressa o Ednei pediu carona pro tio, que respondeu “olha, se couber, vambora”. Dividiríamos a caçamba da Saveiro com um gerador de energia elétrica movido a gasolina, AKA uma bomba prestes a explodir, mas bora lá. Um dos rapazes passou a metade do caminho com uma das pernas pra fora do carro, e todos nós nos segurávamos uns nos outros pra ninguém cair enquanto o motorista arrancava pela praia. Cada tranco era uma festa! Eu mal conseguia respirar com o vento, mas foi demais! Ele nos deixou na primeira entrada do festival e voltamos a pé até a balsa.
Daí fomos jantar. Uma coisa digna de nota a respeito dos restaurantes de Cananéia é que as porções são MUITO BEM SERVIDAS. No cardápio há a indicação “serve duas pessoas”; sendo assim, pedimos um yakisoba de camarão. Quando chegou à mesa, quase caímos pra trás. Aquele tanto de comida dava pra mim, pra ele e possivelmente pra torcida do Corinthians inteira, e ainda sobrava um pouco pra Pitchu. A noção de “duas pessoas” poderia ser tranquilamente trocada por “alimente sua família com uma única refeição”. Num outro restaurante no qual nós fomos, o filé de merluza ao molho de camarão alimentaria a cidade inteira por um mês, no mínimo. E acho que nunca comi tanto camarão à dorê na minha vida…
Enfim, depois de toda a aventura, decidimos voltar pra São Paulo, porque estava ficando caro passar o réveillon na praia, porque além dos ingressos e do transporte pelo qual já havíamos pago, ainda estávamos gastando dinheiro com hospedagem e alimentação. Então decidimos voltar, antes que fôssemos à falência…
Durante a coisa toda, e a viagem de volta, o Ednei perguntava “quando a gente vai acampar de novo?”. Eu devo ter feito cara de “me inclua fora dessa”, porque ele desistiu quando o ônibus começou a chegar perto da Barra Funda…
Daí quando eu cheguei no Butantã começou a chover. Ele, lá de Mauá, disse que também estava chovendo. E eu cheguei à conclusão que fomos nós que levamos a chuva pra Ilha Comprida e região, porque ontem AINDA estava chovendo…
E agora aqui estou eu, contando essa aventura a vocês enquanto decido o que farei nos próximos dias. Só sei que acampar, por enquanto, está fora dos planos…
Discordo completamente disso, é só eu lavar minha barraca e comprar a bendita lanterna, que vou acampar novamente :P
ResponderExcluirJá disse, me inclua fora dessa, tou de boa com acampar por um tempo... =P
Excluirkkkkkkkkkkkkkkk.. Na hora dá um aperto danado,mas depois é só alegria!
ResponderExcluirEu pensei "f***u" quando vi a água toda, mas acabou sendo divertido!
ExcluirAcampar SEMPRE dá merda, sem exceções!! Sou descendente de italianos e por isso não consigo entender essa empolgação pela "vida em contato com a natureza". Contato é uma coisa, mergulhar de cabeça é outra (literalmente, nesse caso hahaha).
ResponderExcluirMas até que foi divertido, apesar do alagamento... e bom, eu tou pensando em começar um curso de natação, porque né... :D
ExcluirOlha, eu admito que sou FRESCA. Não abro mão de uma cama sequinha, limpinha e cheirosinha (tudo "inha") :P . Não sei como vocês aguentaram, eu, no seu lugar, já teria tido uma síncope nervosa e teria fuzilado quem quer que tivesse tido a brilhante ideia (sorry Ednei! :P ). Já fui dessas de encarar tudo em nome da aventura, mas hoje...no thanks, eu passo! Mana, você é guerreira!
ResponderExcluirBom, eu sou altamente a favor do conforto - esse meu signo maldito ainda vai me matar, mas enfim -, mas a coisa toda acabou sendo divertida. E o Ednei nem tinha como saber que ia dar merda, então tudo bem! =P
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